Imagens 3D ajudam a reconstruir monumentos históricos perdidos

Guerras, ataques terroristas e desastres naturais têm causado a destruição de monumentos históricos. Em 2015, o Estado Islâmico demoliu artefatos milenares do Museu de Mosul, no Iraque. No mesmo ano, patrimônios mundiais da Unesco foram danificados durante um terremoto ocorrido no Nepal. Para que a humanidade ainda possa apreciar o legado cultural de tantos povos foi lançado o Reclaiming History. No museu online, objetos históricos serão recriados virtualmente por meio de imagens 3D.

Reclaiming History é uma parceria entre a agência Ogilvy, a organização Pet Gorilla e o projeto #Unite4Heritage, da UNESCO. Tudo começou como Projeto Mosul, criado pelos pesquisadores americanos Chance Coughenour e Matthew Vincent em resposta aos ataques feitos pelo Estado Islâmico.

A dupla uniu seus conhecimentos em arqueologia e desenvolvimento web para criar uma plataforma onde pessoas pudessem apreciar reproduções 3D do que foi destruído no Museu Mosul.

Com as novas parcerias, o projeto evoluiu e resolveu abraçar mais espaços destruídos. “ReclaimingHistory.org fornece aos usuários uma experiência visualmente imersiva, encorajando-os a explorar os locais históricos que foram perdidos ao redor do mundo”, disse Matthew Vincent, em entrevista ao site Creative Pool.

A fotometria e as imagens 3D

Em muitos casos, a reconstrução física é impossível, quando o nível de destruição é intenso. Para poder recriar virtualmente os objetos perdidos, é preciso ter fotos e informações. Por isso, o museu online vai funcionar de forma colaborativa, com o apoio de voluntários, pesquisadores e pessoas comuns que estejam dispostas a contribuir com as imagens e registros dos monumentos atacados.

Diz  Matthew ao Creative Pool: “a preservação digital da memória desse patrimônio fornece ao público não só uma maneira de se envolver com o que foi perdido, mas também de exercer um papel ativo tangível na sua preservação”.

Com as fotos em mãos, resta criar as versões 3D por meio da fotometria. Esse processo funciona de forma semelhante à vista humana. Cada um dos nossos olhos percebe imagens planas 2D. O cérebro utiliza as imagens de cada olho para criar a visualização 3D. Dessa forma, percebemos tudo o que existe ao nosso redor.

Na fotometria, o cérebro é substituído por algoritmos e centenas ou milhares de fotografias substituem os olhos. É possível, então, criar a reprodução 3D dos artefatos.

Além dos objetos, O Reclaiming History pretende recriar museus inteiros usando tecnologia interativa, para que usuários possam navegar por todas as instalações. “Eu acredito que a nova tecnologia torna possível preservar esses objetos, mesmo que tenham perdido sua realidade física”, disse Matthew Vincent, em entrevista ao site da revista Fast Company. “Ao permitir exposições interativas e, ao mesmo tempo, dar o contexto histórico, poderemos remodelar o que os museus são”, conclui.

Outra meta é utilizar impressoras 3D para recriar modelos reais, mas em miniatura, de todo o patrimônio histórico atacado, impressoras 3D estas que estão disponíveis para compra nos grandes market places digitais e que normalmente possuem um frete mais caro por conta do seu volume, mesmo que este seja enviado utilizando o rastreamento correios.

“Um presente para as gerações futuras”

Reclaiming History pretende cuidar para que a humanidade sempre tenha acesso ao seu legado histórico, independente do que venha a enfrentar no futuro. “Se pudermos usar o poder da tecnologia para preservar os monumentos culturais perdidos através do tempo por conflitos e desastres naturais, concentrando-os em um site central, isso será, esperançosamente, um presente para as gerações que estão por vir”, disse Corinna Falusi, chefe de criação da Ogilvy Nova York, em entrevista ao Creative Pool.

O Reclaiming History mostra quais monumentos foram destruídos e precisam de reconstrução visual. Boa parte deles se concentra no Oriente Médio. O Estado Islâmico já foi responsável pela degradação do antigo sítio arqueológico assírio de Nimrud, no Iraque. Ataques também afetaram a cidade de Hatra, considerada patrimônio mundial pela Unesco. O site revela artefatos destruídos em outros locais do mundo, como em países africanos e da América Central. Acesse e veja se você já visitou algum dos pontos turísticos e pode contribuir com fotos ou informações.

Como a Galeria do Rock evoluiu junto com a cidade de São Paulo

Ir até a Galeria do Rock, no centro de São Paulo (um dos principais endereços do Brasil, o qual pode ser encontrado no busca cep), pode ser sinônimo de fazer piercings e tatuagens, montar um novo skate ou comprar camisetas de banda. Mas nem sempre foi assim. Um dos lugares mais icônicos da capital paulista foi projetado para ser um shopping e já foi muito degradado por drogas e crimes no passado.

A Galeria do Rock testemunhou a chegada do punk rock ao Brasil, foi lar de nomes importantes do hip hop, como Mano Brown e Thaíde, e recebeu a primeira loja de skate do país.

Antonio Souza, também conhecido como “Toninho da Galeria”, é síndico do prédio há mais de duas décadas. Jornalista e psicólogo de formação, tornou-se fotógrafo e abriu uma loja de fotografia na Galeria do Rock em 1974. Desde então, não saiu mais de lá. Ele foi um dos responsável pela reestruturação do espaço, transformando-o no que é hoje.

A Galeria do Rock através do tempo

A partir  dos anos 50, o Brasil começou a receber mais influência da cultura estadunidense. Seguindo esse padrão, a Galeria do Rock foi fundada em 1963, com o nome “Shopping Center Grandes Galerias”. O objetivo era atender uma demanda reprimida no centro em termos de ocupação, pois não havia nenhum shopping nessa área.  “Na época, não tinha nada de rock. Depois, nos anos 70, passou a ser conhecida como ‘Galeria 24 de maio’”, explica Toninho.

O espaço era frequentado por pessoas de baixa renda e concentrava pouquíssimas lojas. A cultura do hip hop era forte na galeria, até que o punk chegou na década de 80. “A antiga administração não gostava dos punks por causa das muitas brigas que aconteciam. Eles atribuíam esses confrontos ao rock e decidiram expulsar todo mundo dessa tribo”, conta o síndico.

A Galeria só voltou a ser “do rock” quando Toninho assumiu a administração e resolveu revitalizar o espaço. “O prédio estava abandonado, nada funcionava, não tinha luz, segurança. Era uma verdadeira terra de ninguém, cheia de bandidos e drogas. Havia menos de 80 lojas funcionando”, conta. “Nós entramos para salvar o prédio e valorizar o patrimônio e realmente deu certo. São 23 anos de dedicação total ao negócio”, explica Toninho.

Uma das primeiras atitudes tomadas pela nova administração foi chamar toda a galera do rock de volta. “Na época, diziam: ‘O Toninho ficou louco e está autorizando a montar loja de rock’. Essa história acabou virando folclore, um mito”, brinca.

“A Galeria do Rock está na cabeça de todo mundo”

Toninho conta que tudo o que aconteceu na Galeria através dos anos foi como uma gênesis. “No passado, quem usava tatuagem era só ladrão e bandido. Na Galeria, foram montadas as primeiras lojas de tattoo. A primeira loja de skate também foi ali. Passamos por vários processos e estamos sempre na vanguarda”, revela.

Na opinião de Toninho, a Galeria do Rock é um marco cultural na cidade de São Paulo. “Tem um projeto de lei rolando na Câmara para torná-la patrimônio imaterial, ou seja, intelectual e cultural”, conta. O espaço é um ponto turístico da cidade de São Paulo e referência para quem gosta de música no Brasil.

Ali, preconceito não tem vez. “Pessoas religiosas, por exemplo, vêm com os filhos, pois são bem recebidas. Todo mundo se respeita, convive bem, há uma certa harmonia”, defende.

Aqui dentro tem punk, hip hop, headbands, skatistas… é a maior concentração de lojas do skate do Brasil. A Galeria do Rock está na cabeça de todo mundo.

Hoje, além de possuir mais de 400 lojas, o prédio abriga o Instituto Cultural Galeria do Rock, que promove a participa de eventos como festivais de shows, a Startup Weekend e a Virada Zen. Em parceria com o conservatório Souza Lima, também irá disponibilizar aulas de música dentro da construção.

Como é viver com HIV hoje no Brasil: conheça três histórias

Em 2016, viver com HIV ainda é tabu e leva muita gente a acreditar que contrair o vírus significa ter Aids. No entanto, quem segue o tratamento indicado não tem a doença, leva uma vida normal e tem a mesma expectativa de vida de pessoas soronegativas.

Para discutir como é viver com HIV hoje, é preciso entender que HIV e Aids são coisas diferentes. O primeiro é o Vírus da Imunodeficiência Adquirida, que se instala nas células do sistema imunológico responsáveis pela defesa do corpo. Já a AIDS é a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (“Sida”), um quadro de enfermidades causado pela perda das células de defesa, quando a infecção pelo vírus não é controlada.

Gabriel Estrela e Gabriel Comicholi não sabiam a diferença entre HIV e Aids quando descobriram ser portadores do vírus. “A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi morte”, conta Comicholi. “Não sabia nada sobre HIV e não sabia que era uma coisa que podia acontecer comigo”, disse. Quando recebeu a notícia, Gabriel Estrela experimentou uma sensação parecida.

Não sabia a diferença entre HIV e Aids. É muito difícil explicar, pensei no Cazuza. Só tinha uma certeza, de que a vida tinha acabado e de que ia morrer. Mas hoje vejo que foi uma grande bobagem.

A descoberta

Hoje, os dois jovens fazem o tratamento e já chegaram à carga indetectável, o que significa que a quantidade do vírus no sangue é pequena a ponto de não ser detectada por exames. Quem chega a esse nível também tem pouquíssima ou quase nenhuma chance de transmitir o HIV.

Quando descobriu que era soropositivo, no início deste ano, Gabriel Comicholi, hoje com 21 anos, decidiu começar um canal no Youtube para falar da condição, mostrar sua rotina e trazer mais informações sobre o HIV. “Logo após descobrir que tinha, fui para a internet, dei uma vasculhada no Google e achei pouquíssima coisa em relação ao HIV”, relembra. “Pensei que se encontrasse um canal feito por alguém na mesma condição, seria muito gostoso de ver, alguém em quem pudesse me espelhar. Então criei na internet o que gostaria”, conta ele.

O primeiro vídeo do canal, “#HDIÁRIO 1 – DESCOBERTA”, recebeu mais de 150 mil visualizações no Youtube. Para Comicholi, os jovens de hoje não são educados sobre o HIV e há muita informação errada disponível online. “Não recebem educação nas escolas e muito menos em casa. Os pais não conversam com seus filhos sobre sexo ou doenças, é um tabuzão. Então os jovens não têm cuidado ou sequer medo de pegar”, opina.

Comicholi nunca havia feito exames de DST quando descobriu o vírus, após surgirem inchaços em seu pescoço. “Achei que era caxumba. Pedi uma bateria de exames para a médica e, como nunca tinha feito, pedi todos os de DST. Fui para descobrir uma caxumba e descobri um HIV”, conta.

Os inchaços eram uma espécie de aviso do corpo, que detectou a entrada de algo estranho. Comicholi deu sorte e descobriu a doença cedo. Em três meses, o nível de HIV em seu sangue já era indetectável.

Já Estrela descobriu a infecção pelo vírus há seis anos, quando procurou ajuda médica para tratar lesões por HPV. “A minha sorte foi que eu tinha um namorado muito bacana que percebeu as lesões e falou que nós dois podíamos ir olhar, super na tranquilidade”, conta. Durante uma bateria de exames, ficou sabendo sobre o vírus. Tinha 18 anos.

Transmissão horizontal e vertical

O HIV teve sua epidemia nos anos 1980. Artistas como Freddie Mercury, Cazuza, Renato Russo, Wagner Bello (O Etevaldo, de “Castelo Rá-Tim-Bum”) e o crítico literário Michel Foucalt faleceram por complicações causadas pelo vírus e marcaram a história. O distúrbio virou tabu e ainda foi classificado de forma preconceituosa como uma “doença de gays”.

O HIV pode estar presente no sangue, sêmen, secreção vaginal e leite materno, e pode ser transmitido de várias formas, como transfusão de sangue contaminado, uso de seringa/agulha contaminadas ou sexo sem camisinha. O sexo oral traz menos chances de transmissão, ainda que elas existam. Por isso, é importante usar o preservativo mesmo nesse caso.

O anal, por outro lado, traz mais riscos, pois o ânus tem menos lubrificação natural e sua mucosa está exposta. Além disso, pode sofrer micro-rachaduras durante o sexo pela falta de lubrificação, que facilitam a porta de entrada do vírus. Mulheres também estão bastante expostas, pois a vagina tem mucosas que são porta de entrada para o vírus presente no sêmen infectado.

No entanto, a transmissão independe de orientação sexual ou qualquer outro fator, como idade ou identidade de gênero. Qualquer pessoa corre o risco de contrair o vírus caso não tome as precauções adequadas.

A transmissão pelo HIV também pode acontecer de forma vertical, quando a mãe transmite para o filho durante a gestão, parto ou amamentação. Foi o caso da carioca Rafaela Queiroz. A estudante de psicologia tem 25 anos e foi diagnosticada quando tinha dois. Seus pais biológicos eram portadores do vírus.

Quando viver com HIV é o único lado da história

Rafaela tem uma irmã mais velha, filha do mesmo casal, que é soronegativa. A carioca foi criada pelos tios – seus pais adotivos – junto de duas irmãs. Diferente de Estrela e Comicholi, que precisaram lidar com o impacto da descoberta, a estudante sempre soube que tinha um vírus em seu sangue e que precisava tomar remédios para controlá-lo.

“No hospital onde fazia o tratamento havia um grupo de psicólogos. Em toda consulta para avaliar meu quadro clínico, participava de rodas de conversas com esses psicólogos que faziam terapia em grupo com as crianças do serviço”, conta. “Só soube conscientemente que tinha HIV com uns oito anos, quando tive a curiosidade de saber por que tomava remédio. Tudo era contado de forma mais didática, de que eu tinha um vírus e precisava me tratar. Dessa forma fiquei sabendo que tinha alguma coisa dentro de mim”, relembra.

Para Rafaela, ter o vírus era algo que fazia parte de sua rotina. “Sabia que tinha uma condição, não tinha consciência de que carregava tanto estigma. Era como se tivesse sinusite. Aquilo só ganhou um nome. A vida continuou”, diz. Aos 15 anos, a curiosidade cresceu e entrou para o movimento de jovens que têm HIV, quando começou a querer saber mais sobre sua própria história e a entender por que seus pais biológicos tinham falecido.

Como funciona o tratamento do HIV

Hoje, a quantidade de HIV no sangue é controlada por um coquetel de remédios que permite ao portador viver normalmente. No entanto, pode trazer efeitos colaterais. Em seu canal no Youtube, Comicholi mostra o que sentiu quando tomou a primeira dose.

Desde que iniciou o tratamento, Comicholi toma o remédio 3 em 1 (três remédios em um só comprimido). “[O tratamento] chegou no Brasil há pouco tempo, e dizem que é o melhor aceito por diversos organismos. Nunca tive problema nenhum. Hoje em dia não tenho os efeitos colaterais do começo (calorão, tonturas e pesadelos)”, conta. “Às vezes tenho o calorão, mas é uma coisa muito tranquilo perto das tonturas do começo. Tomo o remédio todos os dias às 10 da noite”, conta.

Já Estrela toma três comprimidos: um 2 em 1 e outros dois remédios monodroga. “Foi o esquema que funcionou melhor para mim. Já é o terceiro conjunto de medicamentos que testo e é o que trouxe menos efeitos colaterais e mais benefícios”, revela.

Cada organismo é único e é preciso testar diferentes drogas até encontrar a que traz melhor qualidade de vida.  Rafaela explica que o tratamento 3 em 1 é o de primeira linha, recomendado pelo Ministério da Saúde para quem descobriu o HIV nos últimos anos. Ela, no entanto, optou por não trocar de fórmula quando teve a oportunidade e toma cinco comprimidos.

“O diagnóstico foi feito quando eu tinha dois anos, então comecei o tratamento. Aos quatro, comecei com o remédio antiretroviral, o AZT líquido”, relembra. “Como era nova, os remédios eram muito adaptados para crianças. As doses eram reduzidas, não lembro de ter efeitos colaterais. Só fui sofrer efeitos quando passei do remédio líquido para o comprimido. Mas só duraram três ou quatro dias”, explica Rafaela.

Como é viver com HIV hoje

Afinal, como é viver com HIV no Brasil hoje? Ter a doença muda alguma coisa? Para Comicholi, não. O curitibano é ator e continua seguindo normalmente com sua carreira após o diagnóstico. A única mudança imediata que precisou fazer foi voltar do Rio de Janeiro para Curitiba, para logo dar início ao tratamento.

“A mudança pela qual passei foi literalmente uma mudança do Rio de Janeiro para Curitiba. Mas foi uma opção minha. Minha mãe queria me acompanhar, e no Rio morava com amigos, não teria uma assistência dos meus pais”, explica. “O apoio da minha família foi muito importante. E também porque sou meio desligado, então minha mãe ficava ‘Gabriel, tem consulta!’. Sou meio desligadão”, brinca.

A descoberta do HIV impulsionou Comicholi a começar o canal no Youtube e a produzir outras obras relacionadas, como o curta-metragem “Horizonte de Eventos”, que já correu festivais como o Mix Brasil de Cultura da Diversidade. “Dentro do HIV, o curta fala sobre laços de amizade nestes tempos de internet, de conectividade. Fala muito sobre relacionamentos e tem muitas cenas verídicas e bem pessoais, como quando contei para a minha mãe”, explica.

Gabriel Estrela passou por uma mudança em sua carreira quando recebeu o diagnóstico. Na época, fazia faculdade de comunicação. “Eu tinha acabado de começar um namoro, de tirar a carteira de motorista. Estava naquele momento em que você fala ‘vou começar a vida, sabe?’”, diz. “Aí veio esse baque do HIV. A partir disso, provoquei um monte de mudanças. Estava bem abalado”, relembra.

Estrela deixou a faculdade de comunicação para cursar biomedicina, pois achou que talvez pudesse estudar sobre o assunto. Também em função do HIV, começou a estudar teatro e foi ali onde realmente se encontrou.

Foi o teatro, inclusive, que o ajudou a revelar o HIV para as pessoas. Quando descobriu, contou apenas para familiares e um grupo de amigos bem próximos. “Achava que precisava de alguém para me proteger em todo lugar. Na época, contei para três, quatro amigos que estavam sempre comigo. Tinha medo de sofrer um acidente, de desmaiar. No primeiro ano fiquei só com esse pessoal, não chegava a ser 10 pessoas”, relembra.

Levou cinco anos para tornar sua vida um livro aberto. Em Brasília, fez aulas com a cantora e compositora Ellen Oléria, que o ensinou algo que nunca esqueceu: trabalhar com arte é convidar as pessoas para um lugar que é só nosso. Estrela queria deixar sua casinha interna bem organizada antes de permitir que outras pessoas entrassem e soubessem de tudo que precisava lidar, inclusive o HIV.

Por mais bem resolvido que a gente esteja, o estigma sempre vem bater à porta. Queria convidar as pessoas para essa casa quando estivesse bem arrumada, para uma festa bacana. E queria falar sobre isso com tranquilidade, sem estigma ou preconceito.

Já Rafaela teve um sonho profissional frustrado por causa do HIV. “A carreira militar tem uma justificativa de que você entra para combate em guerra. Como existem os procedimentos de sobrevivência, quem tem patologias sorológicas, doenças crônicas, não pode ingressar na carreira”, conta. “Fiquei meio frustrada quando descobri, pois sou uma pessoa normal. Foi frustrante por não poder seguir com um sonho de adolescência”, conta.

Felizmente, Rafaela acabou descobrindo que a psicologia era o seu caminho e se forma na graduação no final de 2016.

Viver com HIV no Brasil não é igual para todo mundo

Estrela conta que nunca sofreu preconceito como outros soropositivos sofrem. “Sofri uma vez de um cara com quem estava ficando. Mas como entro em contato com muitos casos de discriminação pesada, acho até ofensivo considerar que sofri preconceito porque as coisas não deram certo com um cara”, opina.

Rafaela Queiroz é da mesma opinião, mas diz que já sofreu preconceito “indireto”, principalmente vindo de profissionais da saúde. Certa vez estava gripada e foi a uma consulta. O médico imediatamente relacionou a gripe com o HIV. “Mas a minha família inteira já tinha ficado gripada. Aí ficou aquela situação: ele justificou a gripe por causa da sorologia. É uma discriminação indireta. Não tenho nem o direito de ficar gripada, pois já vai ser culpa da sorologia?”, conta.

Situação parecida aconteceu recentemente, quando foi ao dentista. Rafaela precisou preencher uma ficha de triagem antes da consulta e indicou que tinha HIV. Na hora do atendimento, a profissional colocou luvas e máscaras extras. “Ela disse que era só por precaução, e eu expliquei que não seria infectada pois estou na carga indetectável. E completei: ‘você pode pegar do seu marido ou do seu namorado se transar sem camisinha’. É discriminação por falta de informação mesmo”, afirma.

Viver com HIV no Brasil não é igual para todo mundo: nem em termos de preconceito, nem em termos de tratamento. O país é um dos únicos a oferecer os remédios de forma gratuita. Qualquer soropositivo pode ir até o SUS e recolher os medicamentos mediante prescrição médica. Mas Rafaela conta que quando começou a participar do movimento jovem e de congressos sobre HIV, tornando-se a ativista que é hoje, conheceu realidades totalmente diferentes da sua.

“A questão de viver com HIV acarreta tanta coisa. A periferia vive com HIV de forma totalmente diferente do branco da Zona Sul [do Rio de Janeiro]. A gente percebe no próprio acolhimento que as pessoas desprivilegiadas têm dúvidas, vergonha e não conseguem fazer perguntas básicas para o médico”, explica.

O viver com HIV hoje ainda é uma questão muito subjetiva pois passa pela realidade do outro e de sua educação, alimentação, moradia e acesso à saúde.

Para a carioca, o sucateamento do SUS no Rio de Janeiro está tornando a situação de soropositivos ainda mais complicada. Ela está bem protegida pois se trata em um hospital-escola referência e tem todo o apoio emocional e financeiro de seus pais. Sabemos que a www.caixa.gov.br é um dos bancos estatais que possuem programas que arrecadam dinheiro para a área de sáude.

O tratamento, por exemplo, pode causar complicações hepáticas ou aumentar os níveis de triglicerídeos. Medicamentos gratuitos para tratar esses efeitos estão em falta. Quem não tem dinheiro para adquirir na farmácia terá problemas de saúde.

Para discutir esse gap, Gabriel Estrela tem um projeto chamado “Boa Sorte”, que teve início quando escreveu uma peça contando sua trajetória após receber a notícia. O projeto se expandiu quando percebeu dois problemas fundamentais em viver com HIV no Brasil: o preconceito e o difícil acesso à saúde para certas camadas da população.

“Tenho um musical, que fala sobre a passagem do diagnóstico para o tratamento. Esse é um trabalho sobre saúde sexual”, explica. “Também temos um ensaio fotográfico que é um nu artístico que mistura corpos soropositivos e soronegativos. Metade dos modelos tem HIV e metade não, e você não sabe quem é quem – e isso não importa”, completa.

Gabriel Comicholi, Gabriel Estrela e Rafaela Queiroz são jovens que sabem o que é viver com HIV e atuam na mídia para que mais pessoas entendam sobre essa realidade e, acima de tudo, deixem de ser “sorointerrogativas”. “O sorointerrogativo é aquele já foi exposto ao vírus e nunca se testou, então não sabe se tem a doença”, explica Rafaela. “Se a pessoa já teve exposição, deve procurar o sistema de saúde e fazer o teste. E se você nunca fez, vá fazer!”, finaliza.

Por que as mulheres precisam participar de iniciativas de saúde feminina?

Quando lançou seu app de saúde, o Health, em 2014, a Apple pensou em quase tudo: em como o aplicativo seria compatível com os vestíveis, isto é, pulseiras e relógios inteligentes que registram informações sobre as atividades físicas do usuário, e nos dados de saúde que iria coletar, como batimentos cardíacos, por exemplo. Porém, esqueceu que a primeira questão de saúde feminina é um fenômeno que acompanha a mulher por quase toda a sua vida: a menstruação.

Em 2015, com a chegada do iOS 9 e do kit para desenvolvedores do Health, a Apple corrigiu sua falha, mas não sem antes manchar a sua imagem. Afinal, toda mulher menstrua. A raiz do problema é semelhante ao que acontece no planejamento urbano desde os tempos primórdios: a falta de um olhar feminino para a questão da saúde, inclusive da mulher. São situações como estas que mostram que a Apple ainda tem muito o que aprender com outras empresas de tecnologia como a própria Microsoft (proprietária do hotmail entrar), a qual possui um processo bem definido em suas soluções.

Boa parte das tecnologias de hoje foram elaboradas por equipes majoritariamente masculinas que não levam em conta necessidades específicas das mulheres. A observação é da Carine Roos, idealizadora da iniciativa UP[W]IT (Unlocking the Power of Women in Technology), que promove eventos para incluir esse olhar feminino em várias áreas, mas sempre com ajuda da tecnologia. “A diversidade nas equipes de engenharia e desenvolvimento de produtos é essencial para a criação de soluções tanto inovadoras quanto inclusivas”, resume.

Idealizadora da Crossing Connection Health, startup que atua na saúde para doenças raras, Andréa Soares sublinha a importância de olhar feminino com o exemplo da mamografia. Não é novidade para ninguém que o câncer de mama é uma das doenças que mais mata mulheres no mundo e que, por não ter cura, exige que a prevenção seja ainda mais eficaz. A melhor forma de detectar um nódulo no seio é por meio da mamografia, que embora muitos homens não saibam, é um exame bastante

desconfortável de se fazer. Aparentemente, e não por acaso, o primeiro aparelho de mamografia foi criado pelo cirurgião alemão Albert Salomon em 1913, um homem, e toda sua história e evolução construídas a partir do ponto de vista masculino. “Será que se tivesse sido uma mulher, não teria sido desenvolvido algo menos doloroso?”, questiona Andréa.

Logo, o olhar feminino faz falta para a própria mulher. Além disso, Andréa ressalta que as mulheres acabam deixando o cuidado de si em segundo plano porque priorizam a família, e que mesmo nisso a inovação poderia ajudá-las. “É necessário trazer a tecnologia para cuidar de quem cuida, soluções que amparem essas mulheres”, explica Andréa. Se, de alguma forma, um aplicativo conseguir ajudar essas mulheres, crianças e idosos que são cuidados por elas também vão se beneficiar. E até mesmo o setor de saúde pública, já que o cuidado é a chave para a prevenção, algo que falta no Brasil na opinião da empreendedora.

Andréa também ressalta que quando se fala de saúde feminina é preciso não apenas pensar no corpo, que é diferente do masculino, mas também na suas diferentes fases: enquanto criança, na adolescência com a puberdade e a menstruação, na questão da gravidez durante a fase adulta e na menopausa na maturidade. Além disso, tem toda a questão psicológica da mulher, que por ter esse papel de cuidadora da família acaba se envolvendo em questões que vão além da sua própria vida, e da sua própria saúde.

Women’s Health Tech Weekend

Nos dias 11 e 12 de março, vai acontecer o primeiro Women’s Health Tech Weekend, em São Paulo. O Women’s Health Tech Weekend terá 30 horas de duração, com talks e um hackathon, para discutir e co-criar soluções para a saúde da mulher. A maratona colaborativa deverá contar com pessoas de diversas áreas, como empreendedores, web-designers, desenvolvedores de software, amparados por especialistas em user experience, negócios, inovação, gênero e saúde.

Dentro do Clube Hebraica, onde acontece o evento, haverá infraestrutura, alimentação, área aberta e dinâmicas paralelas como rodas de empatia, yoga e diversão para crianças. O evento foi idealizado por Carine Ross, fundadora da UP[W]IT, e por Andréa Soares, da Crossing Connection Health.

Índia permite o uso da CNH digital em substituição ao documento de papel

Indianos já não precisam andar com a carta de motorista de papel enquanto estiverem dirigindo. O governo do país permitiu que pessoas mantenham a CNH digital e o registro do carro em seus smartphones, armazenados no aplicativo DigiLocker.

Quem quiser armazenar a CNH digital no DigiLocker deve fazer download do aplicativo e conectá-lo ao seu número de telefone. Para validar a autenticidade do documento, oficiais têm outro app que a verificam.

O DigiLocker é um serviço lançado pelo governo na Índia no ano passado para permitir que cidadãos do país possam armazenar uma variedade de documentos oficiais na nuvem. Cada pessoa tem direito a 1GB de espaço para fazer upload de diplomas, título de eleitor e o que mais julgar necessário.

Para cidadãos, a medida é positiva pois permite que acessem seus documentos em qualquer lugar e a qualquer momento. Além disso, evita a falsificação de papéis.

CNH digital fake

Infelizmente, avanços da tecnologia ainda não evitam por completo que pessoas de má índole se aproveitem dos desavisados. Segundo o site The Indian Express, versões falsas do DigiLocker começaram a surgir na Play Store. Quem usa esses aplicativos falsos corre o risco de ter seus documentos e informações pessoais roubadas por criminosos.

Downloads de versões falsas do DigiLocker foram feitos entre 10 mil e 50 mil vezes. Por isso, usuários devem se certificar de que estão baixando o aplicativo oficial. Para  isso, é precisa checar o desenvolvedor, que é o “MeITY, Governo da Índia”. Qualquer outro nome é falso.

Como a Google permite que qualquer pessoa disponibilize aplicativos na Play Store leva certo tempo antes que os falsos sejam reconhecidos pelo “Google Bouncer”, serviço que busca os não legítimos. O Indian Express disse que encontrou pelo menos sete aplicativos com o nome “DigiLocker” e um deles — o mais semelhante ao oficial — recebeu sozinho 10 mil downloads.

Por enquanto, o DigiLocker oficial está disponível apenas para Android.

Índia Digital

Com o aplicativo, a Índia pretende reduzir o uso de documentos físicos, diminuir despesas governamentais e agilizar serviços burocráticos. A medida faz parte de um ambicioso plano do primeiro ministro Narendra Modi, o “Digital India”.

Modi quer aproveitar ao máximo os avanços na tecnologia para desburocratizar a gestão pública. “Para transformar todo o ecossistema de serviços públicos através do uso de tecnologia da informação, o Governo da Índia lançou o programa Digital India com a visão de transformar a Índia em uma sociedade digitalmente habilitada”, diz o site oficial do programa.

A iniciativa que permite aos motoristas armazenar a CNH digital e outros documentos no smartphone é um passo a frente, que supera medidas similares que ainda estão em fase de teste em outros países. Além da facilidade essa iniciativa também favorece a sustentabilidade, evitando assim a necessidade de imprimir uma CNH de Papel que possui um prazo para poder ser emitida, sabemos que muitos adolescentes estão a calcula prazo até conseguir ter em mãos a sua CNH.

O estado de Iowa, nos Estados Unidos, está testando a CNH digital, que pode ser armazenada no smartphone e contém data de nascimento, foto e código de barras. Ela pode ser checada por oficiais também por meio de um aplicativo.

Já o Reino Unido poderá substituir tickets de papel usados no transporte público por um passe digital armazenado no smartphone. Ele funcionaria de forma similar ao “Oyster Card” usado em Londres, cartão físico que basicamente equivale ao Bilhete Único paulistano.

O conceito Uber como modelo de cidade

Quando Travis Kalanick e Garrett Camp tiveram um problema para conseguir um táxi, talvez nem imaginassem que o Uber, aplicativo criado por eles exatamente para resolver a questão, fosse se transformar num conceito

Bateram de frente com um mercado rigidamente estabelecido, os táxis, em especial nos países pouco familiarizados com o hábito do empreendedorismo ou com regulação estatal sobre o serviço ou com a síndrome da miopia.

Enfrentam muitas batalhas ainda, mas o serviço veio para ficar e é tão revolucionário que já aponta na direção dos carros sem motorista.

Um tanto antropófago, mas definitivamente lógico pela própria natureza da iniciativa e as bases em que se construiu. Nesse sentido, mesmo que taxistas tradicionais aceitem aderir ao serviço, os dias da profissão estão contados.

O tempo que estamos vivendo, dá todas as indicações de que a história vai migrar rapidamente em outras áreas da vida como conhecemos hoje.

Poderia chamar de conceito Google, cuja missão é organizar as informações do mundo e torná-las mundialmente acessíveis e úteis. Ou seja, o próprio mundo. Uma grande sacada de Sergey Brin e Larry Page que em pouco mais de uma década, mudou o jeito do planeta funcionar.

No espírito, Uber tem sensibilidade de Google e está focado em um nicho, mesmo tendo desenvolvido soluções digitais em diversas áreas, como por exemplo o próprio gmail entrar. Tenho certeza que vai longe.

O conceito aplicado às cidades

A cidade em que moro, Uberlândia, tem um pouco disso no seu DNA. Remonta ao início do município, um tanto fora da rota do progresso da época, pela teimosia e espírito visionário dos seus pioneiros. Longa história que não dá para contar aqui.

Pois vejamos, temos nosso próprio sistema de tratamento de água e esgoto, nossa própria fábrica de chocolates, nossa própria fábrica de sorvete, nosso próprio sistema de saúde, nossa própria empresa de telefonia e já tivemos nossa própria geradora de energia. Fabricamos nossos produtos de limpeza e alimentícios. Temos um berço natural de artistas de todas as vertentes e por esses e outros atributos, muitas vezes dá a impressão de ser uma cidade-estado. O ritmo aqui é bem diferente.

Está aqui uma das mais bem estruturadas empresas de energia fotovoltaica e a cidade já ocupa um lugar respeitável em tamanho de parque instalado dessa matriz energética.

A cidade enfim tem uma série de atividades padrão “Uber” e só passa aperto mesmo, quando depende de serviços que são atribuições do Estado de Minas Gerais, ou da União. Quando o assunto é resolvível por aqui, flui.

Não é o “eldorado” apregoado em outros tempos, mas é uma cidade que se resolve. Tem problemas, muitos, mas tem um bom DNA e caminha na frente da média.

A tecnologia com suas maravilhas e facilidades, vai permitir muito em breve que caminhemos para uma margem bem elevada de autossuficiência.

Uma cidade padrão Uber é no meu entendimento, aquela que se organiza para resolver localmente todas as questões necessárias, sem esperar que alguém distante, decida quando é a hora de colocar atenção nos problemas.

As cidades foram pensadas há muito tempo, num padrão completamente analógico e cartesiano, de maneira que digitalizar essas cidades, implica em começar do zero, coisa que pouquíssimas conseguirão fazer em poucas décadas. Fios, canos, postes, calçadas, árvores, ruas e posição das casas nos lotes, ainda obedecem a um padrão caótico que teve a visão meramente econômica como diretriz.

Aliás, voltando para Uberlândia, temos em andamento um conceito de cidade autossustentável, na região Leste. Construída sob essa ótica. A partir do zero.

Por outro lado temos dois problemas na minha visão:

– Condomínios fechados e seus longos muros e conjuntos habitacionais populares que nascem sem muros e em pouco tempo são puro muro. O primeiro isola pessoas da cidade o segundo isola as pessoas de si mesmas.
Nenhum dos dois combina com a cidade orgânica e integrada que muitos e eu me incluo, defendem.

Pensar “Google” e “Uber” significa detonar todos os conceitos de vida como conhecemos hoje. Não precisamos mais de grandes prédios, grandes estruturas, extensos sistemas de transporte, organizações centralizadas e isso inclui, shoppings, escolas, bancos, conjuntos habitacionais nas distantes periferias e num passo além, polícia e bombeiros nos moldes como são hoje, substituídos por sistemas de vigilância e de combate a incêndios, dando tempo para que cheguem ao local da ocorrência sem que os danos aumentem. E vai chegar às estruturas de comando, de governo.

Precisamos muito trazer essa discussão para o topo das preocupações dos cidadãos. As cidades precisam rapidamente se tornar sustentáveis e autossuficientes. É futuro mais do que presente. Não dá para perder mais tempo.