segunda-feira, 26 novembro, 2012 11:20
Empresa
brasileira desenvolve joias de ouro coloridas
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Divulgação |
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Técnica
de ourivesaria, desenvolvida por empresa apoiada pelo
programa PIPE-FAPESP, permite conferir qualquer cor
a joias de ouro |
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O
mercado brasileiro de joias de ouro, ao lado do chinês
e do russo, é um dos que apresentam as maiores taxas
de crescimento nos últimos anos, de acordo com o
Instituto Brasileiro de Gemas & Metais Preciosos (IBMG).
De modo
a se diferenciar da concorrência e ampliar a participação
nesse segmento – que faturou R$ 5,5 bilhões
no Brasil em 2010 e cresceu 30% em relação
a 2009 –, os mais de 900 fabricantes de joias de ouro
existentes no país dão destaque ao design,
com a produção de peças mais leves
e a utilização de pedras e materiais alternativos.
Uma
tecnologia desenvolvida pela empresa brasileira Chancelier,
com apoio do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas
Empresas (PIPE), adicionou mais uma característica
ao design de joias de ouro.
Os pesquisadores
da empresa desenvolveram uma técnica que permite
confeccionar joias de ouro de 18 quilates em qualquer cor
além do dourado tradicional. As peças também
têm alto brilho e podem mudar de tonalidade de acordo
com o ângulo de incidência da luz.
“Nossa
proposta é introduzir a cor como um dos elementos
do design de joias de ouro e fazer uma espécie de
pátina sobre o ouro convencional”, disse o
engenheiro metalurgista Edval Gonçalves de Araújo,
um dos sócios da Chancelier, à Agência
FAPESP.
Por
meio da técnica, chamada sputtering, um alvo da liga
de ouro colorido é colocado na câmara a vácuo
de um equipamento no qual é bombardeado com argônio
e oxigênio.
Com
a alta diferença de tensão, os gases retiram
os átomos de ouro, ferro, cromo e cobalto do alvo,
que se depositam sobre a superfície da peça.
Com isso, se tem uma camada que recobre a joia de ouro e,
por meio do controle da espessura do filme, é possível
conferir a cor que se desejar à peça.
“Esse
processo é bem mais prático e preciso do que
o que usávamos até então. Agora conseguimos
recobrir qualquer peça com ouro colorido”,
disse Araújo.
De acordo
com o pesquisador, a tecnologia começou a ser desenvolvida
em 2003 por um grupo do Instituto de Pesquisas Energéticas
e Nucleares (Ipen), entre eles Araújo. Os pesquisadores
obtiveram uma liga, composta por 75% de ouro e 25% de ferro,
cromo, cobalto e outros metais, em vez dos 25% de prata
e cobre, que formam as ligas de ouro de 18 quilates convencionais.
Por
meio dessa tecnologia, entretanto, somente era possível
fazer joias com ouro colorido de uma só tonalidade
em toda a extensão da peça a partir de folhas
(chapas) cortadas ou dobradas. Essas folhas, quando aquecidas
em forno abaixo da faixa de fusão – em uma
etapa denominada “sinterização”
–, adquiriam, de forma reversível, as cores
branca, dourada, púrpura, azul, cinza e preta, em
função da oxidação da mistura
de ferro, cromo e cobalto.
Em 2005,
com apoio do PIPE, Araújo começou a pesquisar
novas ligas e técnicas para obter joias de ouro coloridas
em composição com o ouro convencional.
As pesquisas
resultaram no desenvolvimento da técnica de sputtering,
que permitiu recobrir qualquer peça de ouro em seu
formato final com ouro colorido, com diferentes tonalidades
e aplicado em áreas selecionadas da joia.
“Por
meio dessa técnica, nós podemos fazer, por
exemplo, um brinco ou anel de ouro no formato de uma borboleta
com as cores do arco-íris”, disse Araújo.
Alianças
de ouro coloridas
Para
introduzir a tecnologia no mercado, a empresa desenvolveu
uma coleção, composta de brincos, pingentes,
colares e alianças, e encomendou uma pesquisa de
análise de potencial de mercado, realizada pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV) com um grupo representativo
de um universo de 92 mil mulheres na Grande São Paulo
– região que responde por cerca de metade do
consumo de joias de ouro no país.
As participantes
da pesquisa disseram que comprariam joias de ouro coloridas
e pagariam, em média, 50% a mais pelas peças,
em comparação com as joias de ouro convencional,
o que daria origem a um novo nicho de mercado com faturamento
estimado em R$ 66 milhões anuais.
Com
base nessa constatação, a empresa começou
a fabricar em grande escala, também com apoio do
PIPE, e lançará até o fim de 2012 uma
linha de alianças que, junto com anéis, responde
por, aproximadamente, 50% das joias comercializadas no Brasil.
Só as vendas de alianças correspondem a cerca
de 4,6 toneladas de ouro no país, com faturamento
de R$ 700 milhões anuais.
“Pretendemos
introduzir a tecnologia em um novo nicho de mercado de joias
de ouro e conquistar gradualmente outros segmentos consolidados.
A ideia é ampliar o leque de opções
de alianças, criando detalhes e introduzindo a cor
como um dos componentes do design das peças, que
podem ser diamantadas, coloridas e até mesmo com
pedras”, explicou Araújo.
De acordo
com o pesquisador, as alianças de ouro colorido não
terão um custo maior do que o das alianças
convencionais, porque o processo de sputtering não
é caro e permite “colorir” centenas de
peças por vez.
As peças
começarão a ser comercializadas inicialmente
em São Paulo e, posteriormente, em outros estados,
como Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul,
onde a empresa já tem representantes.
Além
das peças prontas, a empresa também irá
oferecer o serviço de coloração de
joias de ouro para joalherias e designers de joias. “Temos
a fábrica montada e nos associamos a uma empresa
que fabrica o equipamento de sputtering para fazer esse
tipo de tratamento em joias de ouro”, disse Araújo.
A tecnologia
de fabricação da liga de ouro colorida já
foi patenteada, com apoio do Programa de Apoio à
Propriedade Intelectual PAPI, da FAPESP, e a técnica
de recobrimento por sputtering está em processo de
patenteamento.
Por
Elton Alisson | Agência FAPESP