quinta-feira,
11 outubro, 2018 - 11h52 | A OUTRA
COLUNA
O
inconsciente coletivo do Brasil e as eleições
O
Brasil, sem dúvida é um país de peculiaridades
e numa visão bem fora da caixa, aquele lugar no planeta
onde convivem culturas e pluralidades tantas, que passam despercebidas
num primeiro olhar superficial. Um caldeirão onde estão
misturadas as belezas e as mazelas, o alfa é o ômega
do ser humano. Esses modelos arquetípicos tanto se manifestam
no plano físico da vida das pessoas, quanto no inconsciente
coletivo e o momento expõe de forma crua e transparente
toda essa diversidade.
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O
inconsciente coletivo do Brasil e as eleições
- O Brasil, sem dúvida é um país de peculiaridades
e numa visão bem fora da caixa, aquele lugar no planeta
onde convivem culturas e pluralidades tantas, que passam despercebidas
num primeiro olhar superficial | pixabay |
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Há
muita explicação física, metafísica,
"patafísica", transcendental, filosófica,
astrológica, religiosa, hermética para termos desde
obras públicas que começam e não terminam,
serviços que são lindos na teoria, mas que na prática
não funcionam, a manutenção das desigualdades
sociais, a corrupção e a criminalidade, os preconceitos
generalizados e a defesa acalorada de questões importantes
apenas em momentos específicos e sempre estimuladas por
grupos de interesse, que simplesmente desaparecem tão logo
o objetivo seja alcançado, mas que não nos permitem
chegar a alguma conclusão. Feita esta breve introdução
vamos ao foco deste artigo.
As eleições
de 2018, sob a égide de tempestades geomagnéticas
acabaram por revelar um inconsciente coletivo, no meu entendimento,
idólatra, monárquico, ditatorial, preconceituoso,
oportunista, agressivo, comodista, dicotômico entre bem
e mal, insuflado por elites antagônicas que se apunhalam
desde 1808 pelo menos e omissão popular e que nesse momento
se traduzem em Bolsonaro e Haddad.
Revelam
também o embate de dois regimes, um que luta por preservar
o status vigente, onde a "Côrte" se reserva certos
direitos e poucos deveres e outro que pretende instalar a República
de fato, onde os direitos e deveres são iguais para todos,
independente de quem sejam.
O fato
é que a Monarquia verdadeira e constitucional que vigorou
até 1889 com seus erros e acertos, acabou por ser o modelo
que os "Republicanos" de então acabaram adotando,
dando a falsa impressão de que realmente seríamos
uma República.
No trono,
sentou-se o presidente, no lugar da nobreza os ministros e os
políticos e no lugar do povo, o povo mesmo sem direito
a vez ou voz.
Desde
então e de maneira muito turbulenta vamos trocando os membros
dessa elite, sempre banhados por promessas que resultam no que
citei no segundo parágrafo, o Brasil inconcluso.
Como no
nosso inconsciente coletivo, não aparece o debate e a discussão,
mas apenas a aceitação de "A" ou "B"
segundo as regras dessa "monarquia plebeia" permanecemos
nesse estado de coisas. Uma loteria eleitoral.
O
mundo mudou
A internet
vem fazendo bons estragos nas estruturas carcomidas de um mundo
que se estruturou de forma analógica, mas no Brasil inconcluso
acabou por jogar na mesma vala, tudo o que significa sociedade,
costumes, regras e expôs ainda mais o caráter do
povo como um todo. Nesse cenário, Bolsonaro
e Haddad representam uma quebra de paradigma,
uma Bastilha tupiniquim, sem muito sangue, mas com muito mais
barulho e diversidade.
As instituições
do país estão correndo atrás do prejuízo
de se manterem acasteladas em seus métodos monárquicos
e sua surdez institucional.
Uma parcela
significativa da população, possui acesso à
internet*,
mas não sabemos a qualificação desses indivíduos,
nem o grau de compreensão intelectual, nem seus interesses
políticos, nem se pertencem aos grupos que realmente já
se apropriaram dessa tecnologia e numa velocidade incrivelmente
maior, estão fazendo cabeças sob as barbas da cartilha
analógica que as nossas instituições ainda
seguem.
Os institutos
de pesquisa derraparam e bateram na cerca em muitos resultados
eleitorais e o Whatsapp mandou brasa, fazendo aparecer Witzel
no Rio de Janeiro e Zema em Minas Gerais, só
para citar dois exemplos. Muita gente tradicional ficou de fora
e a quantidade de novatos, bem ou mal vai promover mudanças
siginificativas nas esferas de poder.
O
inconsciente coletivo
Se você
entendeu a importância de participar do processo político
e que não há divisão entre o que o país
precisa e o que o cidadão precisa, que todos somos
iguais perante a lei e isso significa direitos e deveres
e que mudança precisa de postura interior e não
de reclamar, discutir, ofender, fazer inimigos em conversas de
bar, nas redes sociais ou matar.
Mudança,
traz sim desconforto, mas abre a oportunidade de reorganizarmos
o tecido social que está duramente esgarçado.
Só
nas ditaduras é o presidente quem governa, nas democracias
é com o Congresso. Compreendeu? Não adianta
idolatrar.
Se o eleito
não tiver bom trânsito no Congresso, terá
seu governo empacado e quem perderá são os cidadãos.
Presidente
é o conciliador, o negociador, o estrategista, a pessoa
que deve ter visão macro e que saiba montar um bom ministério.
E só um povo instruído é que pode montar
esse quadro. Se queremos uma República de fato e de direito
não podemos nos comportar como monarquia
ou ditadura.
Tão
importante quanto escolher um bom presidente é escolher
bons deputados e senadores, coerentes com o eleito. Para estados
e municípios do mesmo modo.
Já
o eleitor não pode cair nessas falácias e o comodismo
é a porta para esse estado de coisas que vivemos hoje.
Um povo que espera que "alguém" resolva os problemas,
além de omisso é campo fértil
para os malandros. Atitude brasileiro, atitude.
Os problemas
de uma nação estão todos interligados. Não
adianta pregar que vai fazer "isso e aquilo" como se
fosse a solução definitiva. O equilíbrio
dos poderes combate os preconceitos, oportunistas e agressivos.
Portanto
discutir única e exclusivamente Bolsonaro
ou Haddad limita nosso campo de visão
e afasta as alternativas para as soluções tantas
que ainda faltam ao Brasil. Nossos gargalos de infraestrutura,
saneamento básico, acesso à saúde e à
educação, leniência com o malfeito e respeito
às leis e aos direitos de todos os cidadãos à
vida, à liberdade religiosa, de pensamento e expressão.
Um bom
povo deveria encaminhar as deficiências e sugerir as mudanças.
Não apenas no dia do voto, mas no dia a dia em todas as
áreas da vida.
*Segundo
os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (Pnad C), do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) em fevereiro de 2018, o Brasil tinha
116 milhões de pessoas conectadas à internet. No
Sudeste (72,3%), Centro-Oeste (71,8%), Sul (67,9%), Norte (54,3%)
e Nordeste (52,3%). Sendo o celular, 94%, o dispositivo mais usado.
Os valores são de 2016 e correspondem a 64,7% da população
com idade acima de 10 anos.