Quando lançou seu app de saúde, o Health, em 2014, a Apple pensou em quase tudo: em como o aplicativo seria compatível com os vestíveis, isto é, pulseiras e relógios inteligentes que registram informações sobre as atividades físicas do usuário, e nos dados de saúde que iria coletar, como batimentos cardíacos, por exemplo. Porém, esqueceu que a primeira questão de saúde feminina é um fenômeno que acompanha a mulher por quase toda a sua vida: a menstruação.
Em 2015, com a chegada do iOS 9 e do kit para desenvolvedores do Health, a Apple corrigiu sua falha, mas não sem antes manchar a sua imagem. Afinal, toda mulher menstrua. A raiz do problema é semelhante ao que acontece no planejamento urbano desde os tempos primórdios: a falta de um olhar feminino para a questão da saúde, inclusive da mulher. São situações como estas que mostram que a Apple ainda tem muito o que aprender com outras empresas de tecnologia como a própria Microsoft (proprietária do hotmail entrar), a qual possui um processo bem definido em suas soluções.
Boa parte das tecnologias de hoje foram elaboradas por equipes majoritariamente masculinas que não levam em conta necessidades específicas das mulheres. A observação é da Carine Roos, idealizadora da iniciativa UP[W]IT (Unlocking the Power of Women in Technology), que promove eventos para incluir esse olhar feminino em várias áreas, mas sempre com ajuda da tecnologia. “A diversidade nas equipes de engenharia e desenvolvimento de produtos é essencial para a criação de soluções tanto inovadoras quanto inclusivas”, resume.
Idealizadora da Crossing Connection Health, startup que atua na saúde para doenças raras, Andréa Soares sublinha a importância de olhar feminino com o exemplo da mamografia. Não é novidade para ninguém que o câncer de mama é uma das doenças que mais mata mulheres no mundo e que, por não ter cura, exige que a prevenção seja ainda mais eficaz. A melhor forma de detectar um nódulo no seio é por meio da mamografia, que embora muitos homens não saibam, é um exame bastante
desconfortável de se fazer. Aparentemente, e não por acaso, o primeiro aparelho de mamografia foi criado pelo cirurgião alemão Albert Salomon em 1913, um homem, e toda sua história e evolução construídas a partir do ponto de vista masculino. “Será que se tivesse sido uma mulher, não teria sido desenvolvido algo menos doloroso?”, questiona Andréa.
Logo, o olhar feminino faz falta para a própria mulher. Além disso, Andréa ressalta que as mulheres acabam deixando o cuidado de si em segundo plano porque priorizam a família, e que mesmo nisso a inovação poderia ajudá-las. “É necessário trazer a tecnologia para cuidar de quem cuida, soluções que amparem essas mulheres”, explica Andréa. Se, de alguma forma, um aplicativo conseguir ajudar essas mulheres, crianças e idosos que são cuidados por elas também vão se beneficiar. E até mesmo o setor de saúde pública, já que o cuidado é a chave para a prevenção, algo que falta no Brasil na opinião da empreendedora.
Andréa também ressalta que quando se fala de saúde feminina é preciso não apenas pensar no corpo, que é diferente do masculino, mas também na suas diferentes fases: enquanto criança, na adolescência com a puberdade e a menstruação, na questão da gravidez durante a fase adulta e na menopausa na maturidade. Além disso, tem toda a questão psicológica da mulher, que por ter esse papel de cuidadora da família acaba se envolvendo em questões que vão além da sua própria vida, e da sua própria saúde.
Women’s Health Tech Weekend
Nos dias 11 e 12 de março, vai acontecer o primeiro Women’s Health Tech Weekend, em São Paulo. O Women’s Health Tech Weekend terá 30 horas de duração, com talks e um hackathon, para discutir e co-criar soluções para a saúde da mulher. A maratona colaborativa deverá contar com pessoas de diversas áreas, como empreendedores, web-designers, desenvolvedores de software, amparados por especialistas em user experience, negócios, inovação, gênero e saúde.
Dentro do Clube Hebraica, onde acontece o evento, haverá infraestrutura, alimentação, área aberta e dinâmicas paralelas como rodas de empatia, yoga e diversão para crianças. O evento foi idealizado por Carine Ross, fundadora da UP[W]IT, e por Andréa Soares, da Crossing Connection Health.