Ir até a Galeria do Rock, no centro de São Paulo (um dos principais endereços do Brasil, o qual pode ser encontrado no busca cep), pode ser sinônimo de fazer piercings e tatuagens, montar um novo skate ou comprar camisetas de banda. Mas nem sempre foi assim. Um dos lugares mais icônicos da capital paulista foi projetado para ser um shopping e já foi muito degradado por drogas e crimes no passado.
A Galeria do Rock testemunhou a chegada do punk rock ao Brasil, foi lar de nomes importantes do hip hop, como Mano Brown e Thaíde, e recebeu a primeira loja de skate do país.
Antonio Souza, também conhecido como “Toninho da Galeria”, é síndico do prédio há mais de duas décadas. Jornalista e psicólogo de formação, tornou-se fotógrafo e abriu uma loja de fotografia na Galeria do Rock em 1974. Desde então, não saiu mais de lá. Ele foi um dos responsável pela reestruturação do espaço, transformando-o no que é hoje.
A Galeria do Rock através do tempo
A partir dos anos 50, o Brasil começou a receber mais influência da cultura estadunidense. Seguindo esse padrão, a Galeria do Rock foi fundada em 1963, com o nome “Shopping Center Grandes Galerias”. O objetivo era atender uma demanda reprimida no centro em termos de ocupação, pois não havia nenhum shopping nessa área. “Na época, não tinha nada de rock. Depois, nos anos 70, passou a ser conhecida como ‘Galeria 24 de maio’”, explica Toninho.
O espaço era frequentado por pessoas de baixa renda e concentrava pouquíssimas lojas. A cultura do hip hop era forte na galeria, até que o punk chegou na década de 80. “A antiga administração não gostava dos punks por causa das muitas brigas que aconteciam. Eles atribuíam esses confrontos ao rock e decidiram expulsar todo mundo dessa tribo”, conta o síndico.
A Galeria só voltou a ser “do rock” quando Toninho assumiu a administração e resolveu revitalizar o espaço. “O prédio estava abandonado, nada funcionava, não tinha luz, segurança. Era uma verdadeira terra de ninguém, cheia de bandidos e drogas. Havia menos de 80 lojas funcionando”, conta. “Nós entramos para salvar o prédio e valorizar o patrimônio e realmente deu certo. São 23 anos de dedicação total ao negócio”, explica Toninho.
Uma das primeiras atitudes tomadas pela nova administração foi chamar toda a galera do rock de volta. “Na época, diziam: ‘O Toninho ficou louco e está autorizando a montar loja de rock’. Essa história acabou virando folclore, um mito”, brinca.
“A Galeria do Rock está na cabeça de todo mundo”
Toninho conta que tudo o que aconteceu na Galeria através dos anos foi como uma gênesis. “No passado, quem usava tatuagem era só ladrão e bandido. Na Galeria, foram montadas as primeiras lojas de tattoo. A primeira loja de skate também foi ali. Passamos por vários processos e estamos sempre na vanguarda”, revela.
Na opinião de Toninho, a Galeria do Rock é um marco cultural na cidade de São Paulo. “Tem um projeto de lei rolando na Câmara para torná-la patrimônio imaterial, ou seja, intelectual e cultural”, conta. O espaço é um ponto turístico da cidade de São Paulo e referência para quem gosta de música no Brasil.
Ali, preconceito não tem vez. “Pessoas religiosas, por exemplo, vêm com os filhos, pois são bem recebidas. Todo mundo se respeita, convive bem, há uma certa harmonia”, defende.
Aqui dentro tem punk, hip hop, headbands, skatistas… é a maior concentração de lojas do skate do Brasil. A Galeria do Rock está na cabeça de todo mundo.
Hoje, além de possuir mais de 400 lojas, o prédio abriga o Instituto Cultural Galeria do Rock, que promove a participa de eventos como festivais de shows, a Startup Weekend e a Virada Zen. Em parceria com o conservatório Souza Lima, também irá disponibilizar aulas de música dentro da construção.